Os Orixás são entidades divinas do panteão das religiões de matriz africana, especialmente do Candomblé e da Umbanda no Brasil. Sua origem remonta às tradições religiosas do povo iorubá, na região que atualmente corresponde ao sudoeste da Nigéria e partes do Benim e do Togo. Com a diáspora africana forçada pelo tráfico transatlântico de escravizados, essas divindades foram trazidas para as Américas, especialmente para o Brasil, onde se adaptaram e resistiram, incorporando elementos culturais locais e sincretizando-se com o catolicismo imposto pelos colonizadores europeus.

Origem e Cosmologia Iorubá
Na cosmologia iorubá, Olodumarê (ou Olorum) é o deus supremo, criador de tudo, mas é distante do cotidiano humano. Os Orixás são suas emanações ou intermediários, cada um com domínio sobre aspectos da natureza e da vida humana. Existem dezenas de Orixás, cada qual com personalidade própria, símbolos, cores, comidas, cantos e danças específicos.
Entre os principais Orixás da tradição iorubá, podemos destacar:
Exu: mensageiro dos Orixás, senhor dos caminhos e das comunicações. É o primeiro a ser saudado em qualquer ritual.
Ogum: Orixá do ferro, da guerra e da tecnologia. Representa a força, o trabalho e a conquista.
Oxóssi: caçador e senhor das matas, associado à fartura e ao conhecimento.
Xangô: Orixá do trovão, da justiça e do fogo. É ligado ao poder, à liderança e à sabedoria.
Oxum: deusa dos rios e das águas doces, da fertilidade, do amor e da beleza.
Iemanjá: rainha dos mares, símbolo da maternidade e da proteção familiar.
Obaluaiê: ligado às doenças e à cura, senhor da terra e dos cemitérios.
Omulu: forma mais velha e temida de Obaluaiê.
Iansã (Oyá): deusa dos ventos, das tempestades e da transformação.
Nanã: Orixá ancestral, ligada à lama primordial e à morte como passagem.
Oxalá: Orixá da criação, associado à paz, à sabedoria e à pureza. Representa o princípio masculino criador.
Chegada ao Brasil e Sincretismo
Durante a escravidão no Brasil, os africanos de diferentes etnias e culturas foram forçados a se adaptar ao catolicismo. Para preservar suas crenças, ocultaram os Orixás sob os nomes de santos católicos, criando um sincretismo religioso. Por exemplo, Oxalá foi sincretizado com Jesus Cristo; Iemanjá com Nossa Senhora; Xangô com São Jerônimo ou São João Batista.
O Candomblé se estruturou como religião no Brasil ao longo dos séculos XVIII e XIX, especialmente na Bahia. Cada nação de Candomblé (Ketu, Jeje, Angola, etc.) possui variações no culto aos Orixás, nos rituais, idiomas litúrgicos (como o iorubá ou fon) e na musicalidade.
A Umbanda, surgida oficialmente no Brasil no início do século XX, também cultua Orixás, mas de forma mais sincrética e com influência do espiritismo kardecista, do catolicismo popular e das tradições indígenas. Os Orixás na Umbanda muitas vezes se manifestam em linhas de trabalho como Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças.
Orixás na Atualidade
Hoje, o culto aos Orixás é praticado em diversas partes do Brasil e do mundo. Eles são reverenciados não apenas por religiosos do Candomblé e da Umbanda, mas também por pessoas que reconhecem sua importância simbólica e cultural. Os Orixás inspiram literatura, música, dança, moda e movimentos de afirmação da identidade negra.
Em tempos recentes, há um crescente interesse acadêmico e social pelo estudo das religiões afro-brasileiras. Ao mesmo tempo, os praticantes enfrentam preconceito, intolerância religiosa e racismo, o que torna ainda mais importante a valorização e proteção desses saberes ancestrais.
Considerações Finais
Os Orixás representam mais do que divindades: são a expressão da resistência, da sabedoria e da conexão entre o humano e o sagrado. Do passado ancestral africano até a contemporaneidade globalizada, continuam vivos na fé, na cultura e na luta por respeito e dignidade dos povos de matriz africana. O reconhecimento e a valorização dos Orixás e de suas tradições são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, plural e respeitosa das diversidades religiosas.